terça-feira, 1 de junho de 2010

Chinese Democracy : A história do album

É janeiro de 1994. Por várias semanas, Slash tem mandado várias fitas com riffs de guitarras (e jam sessions com Gilby Clarke e Matt Sorum) para Axl, como sugestões de idéias para a banda começar a trabalhar em seu novo álbum de estúdio. Em 3 de janeiro, Axl Rose diz à Rockline Radio: "nós temos em mente o ano de 1996 (para lançar o álbum) e nós provavelmente vamos gravar muita coisa, vamos tentar fazer bastante coisa até lá... Talvez nós até trabalhemos com Brian May em um projeto futuro."




A revista Classic Rock apresentou nesta série, ano por ano, um relatório dos bastidores do álbum mais controverso de todos os tempos. As traduções serão publicadas diariamente no Whiplash!.



Compilado por: Lauri Löytökoski

Material adicional: Scott Rowley







Eles tinham algumas músicas prontas. No ano anterior, Axl falou à revista Hit Parader sobre uma música que - 15 anos depois - seria lançada como a penúltima faixa de "Chinese Democracy": "nós realmente ainda não sentamos para compor", disse ele. "Eu compus e gravei uma nova música de amor que eu quero colocar no novo disco, chamada 'This I Love', que é a coisa mais pesada que já fiz."



O produtor/engenheiro de som Dave Dominguez indica que essa música é ainda mais antiga, comentando que "'This I Love' é de fato uma música bem antiga do Guns... Gravada para os álbuns 'Use Your Illusion'. Eu gosto muito dessa música... Demorou algumas semanas para achar todas as fitas porque eles terminaram de gravar os álbuns já em turnê e uma fita estava em Paris, a outra em Londres e outra em Sydney, eu creio."



Na verdade, talvez Dominguez esteja enganado sobre 'This Is Love' ser originalmente uma música gravada para os UYI (os álbuns foram lançados em 17 de setembro de 1991 e, comparando as datas da turnê com as sessões de estúdio, o Guns tocou em Londres em 31 de agosto de 1991 e em 20 de abril de 1992, em Paris em 6 de junho de 1992 e em Sydney em 30 de janeiro de 1993) - é mais provável que a música tenha sido originalmente gravada na mesma época em que o material lançado no álbum "The Spaghetti Incident?".



Em 19 de janeiro, Axl apareceu na cerimônia de indicação de Elton John ao "Rock'n'Roll Hall Of Fame". Ele também tocou "Come Together", dos Beatles, com Bruce Springsteen. Essas acabaram por ser suas últimas performances em público por vários anos.



As demos do Snakepit







"Inicialmente eu só estava escrevendo o que achava legal", disse Slash em 1995. "Eu me sentia como um garoto em uma loja de brinquedos. Eu tinha um estúdio em casa. Era só acordar de manhã, literalmente apertar o botão de ligar, plugar minha guitarra e começar a tocar. Eu não olho para as coisas com um conceito de compor um álbum que seja o hit da temporada, o hit quintessencial. Meu negócio é riffs de guitarra... É a nossa banda. Então, se eu escrevo algo, minha primeira e principal prioridade seria apresentar o material ao Guns."



Slash ainda se dedicava exclusivamente ao Guns N' Roses, mas na entrevista à Rockline Axl deixou escapar que - assim como Duff McKagan e Gilby Clarke - estava começando a pensar em um projeto solo. "Eu estou tentando montar um projeto que é algo como uma arma ultra-secreta", disse ele.



Mais tarde naquele ano perguntaram ao vocalista o seguinte: caso ele pensasse em montar um projeto solo, com quem ele gostaria de trabalhar?



Axl: "Trent Reznor do Nine Inch Nails seria um cara, e o Dave Navarro do Jane's Addiction seria outro... Eu até já conversei com Trent sobre ele trabalhar comigo em um projeto industrial com sintetizadores, pelo menos em uma música, e eu certamente gostaria de trabalhar com Dave... Eu sempre tive a curiosidade de saber como ele soaria, tocando com o Slash em alguma coisa."



Em 1995, Slash lembrou-se dessa época ao falar à revista Metal Hammer: "houve um ponto em que Axl disse: 'eu vou gravar um disco solo, e eu vou chamar Trent Reznor e Dave Navarro, e o baterista do Nirvana...' e coisas do tipo. E isso é algo como - ele nem conhece metade desse povo, ele simplesmente está sacando esses caras do nada. A minha reação foi 'legal, faça isso, ponha isso pra fora e quando você voltar nós seremos apenas o Guns N' Roses." (Em 1995 o tablóide sueco Aftonbladet perguntou ao guitarrista o motivo pelo qual todos na banda lançaram um projeto solo menos Axl. "Axl acha que o Guns é o seu projeto solo", disse Slash.)



No começo de 1994, Slash se encontrou com Axl para conversar sobre as demos que acabaram por se tornar músicas do Snakepit.



Como Slash contou em sua autobiografia: "eu comecei a andar com o Matt e gravar demos do material que a gente tocava só pra me divertir, e Mike Inez do Alice In Chains e o Gilby começaram a aparecer e tocar conosco. Nós três pegamos o embalo e começamos a tocar e a gravar toda noite. Nós não sabíamos sequer no que aquilo iria resultar. Em algum momento eu toquei esse material para o Axl, que demonstrou um profundo desinteresse por ele."



Como ele também disse à revista Rock Hard: "eu toquei para o Axl uma demo com algumas de minhas idéias para músicas, e tudo o que ele disse foi: 'eu não tenho interesse em tocar esse tipo de música.' Eu respondi: 'mas esse poderia ser um excelente disco do Guns, 100% no estilo da banda.' Ele realmente não deu a mínima, ele só queria tocar industrial e umas porcarias no estilo do Pearl Jam."



Gilby deixou a entender, em uma entrevista para a Kerrang! na época, que Duff McKagan também não tinha gostado da direção das demos de Slash: "(Axl) não curtiu o que estamos fazendo, ele está repensando o que quer fazer. Ele meio que detonou tudo aquilo em que eu, Slash e Matt tínhamos trabalhado. E daí chegou o Duff. Duff e Axl têm uma idéia preconcebida de como o novo álbum deve soar, e o resto de nós tem uma outra idéia."



Em 1999, Axl deu sua própria versão sobre a idéia de que era ele e McKagan versus o resto da banda, dizendo à MTV: "o que as pessoas não sabem é que o álbum do Slash's Snakepit é na verdade o álbum do Guns N' Roses. Eu só não o gravei. O Duff saltou fora, eu também, porque eu não pude tomar parte do processo de criação. Foi algo do tipo 'não, você vai fazer isto, é assim que vai ser.' E eu não acreditei naquele material. Eu achava que havia alguns riffs ali e algumas partes e idéias que precisavam ser desenvolvidas. Mas eu não tinha problema algum em começar a trabalhar naquelas músicas."



Duff achou que eles haviam perdido uma parte vital do processo de composição: "nós começamos a ir à casa de Slash... E tínhamos um punhado de músicas. Mas, quer saber? Sem o Izzy, não era do mesmo jeito que antigamente. Nós tínhamos um punhado de ótimas músicas, mas o jeito que nós estávamos acostumados a compor não era todos sentadinhos em uma sala tentando nos forçar a ser uma família. Nós simplesmente estávamos ali. Mas houve um ponto em que tudo parecia estar certo e nós começamos a compor músicas, mas as coisas começaram a degringolar."







Aparentemente Axl não achava que Gilby era um substituto à altura para Izzy. "Nós não sabemos se vamos escrever as músicas com Gilby ou com outra pessoa", disse ele em 1993. "O que nós sabemos é que queremos tocar com Gilby, mas não temos certeza quanto ao processo de composição."



"Minha última conversa com Axl foi quando ele me ligou e estava tentando explicar o que queria fazer", disse Gilby à Spin em 1999. "E basicamente era o seguinte: 'eu quero mudar o som da banda. Sabe, eu quero tocar o que está rolando no momento... Eu quero tocar, sabe, uns lances mais industriais.' Naquela época ele realmente gostava de bandas como Jane's Addiction, Pearl Jam e Nine Inch Nails. Eu apenas ri e disse: 'olha - eu só quero tocar guitarra em uma versão barulhenta dos Rolling Stones, sabe?'"



"Já fazia tempo que eu sabia que Axl iria mudar o estilo da banda. Eu sabia que o fim estava chegando", disse ele. "É por isso que eu fui a fundo na minha carreira solo. Tinha dias em que Axl ligava para Slash e dizia, 'manda o Gilby embora - ele não se encaixa no meu plano', mas ele nunca dizia isso pra mim. Isso rolou por um longo tempo."



Slash escreveu em sua autobiografia "Slash", publicada em 2007: "Axl despediu o Gilby sem consultar ninguém. O raciocínio era de que Gilby sempre foi um músico contratado e que não poderia participar do processo de composição."



Nesse mesmo período, no dia 10 de maio Duff foi levado às pressas a um hospital de Seattle - seu pâncreas explodiu como resultado de anos de abusos de álcool e drogas. "Eu estava em minha casa em Seattle quando uma dorzinha começou a ficar mais intensa. Doeu tanto que eu não conseguia sequer pegar o telefone para ligar para alguém. Pra minha sorte, calhou de o meu melhor amigo aparecer na minha casa, e eu foi levado ao pronto socorro." Tendo tido sorte de sobreviver, quando recebeu alta, oito dias depois, Duff foi avisado de que somente um drinque seria o suficiente para matá-lo.



Por volta de agosto/setembro de 1994, Slash voltou ao estúdio para gravar as demos recusadas por Axl e fazer o álbum que se tornaria o debut do Slash's Snakepit, "It's Five O'Clock Somewhere", com produção de Mike Clink e contando com Matt Sorum na bateria, Mike Inez no baixo e Eric Dover do Jellyfish nos vocais. "Ele e eu escrevemos todas as letras para as 12 faixas", escreveu Slash em sua autobiografia, "e eu acho que é bem fácil perceber quais foram as letras que ele escreveu e quais foram as que eu escrevi: todas as minhas letras eram direcionadas a uma única pessoa... Mas na época ninguém percebeu isso. Eu usei o disco como uma oportunidade para soltar um monte de coisa que estava atolada na minha garganta."



Com essa informação, fica mais claro o significado de letras como a de "What Do You Want To Be" (“o que você quer ser”), com versos como: ‘What the hell do you want to be/Following the trends that never end’ (que porra você quer ser/ seguindo as modas que nunca acabam), e ‘Ya ain’t been out in days/Will the sunshine burn your face/ Preserve your precious skin/ I’ll go out, you stay in.’ (“faz dias que você não sai/ será que o sol vai queimar seu rosto/ preserve sua pele preciosa/ eu vou sair, você que fique”).







De acordo com Slash, o álbum foi gravado e mixado em 26 dias - para a surpresa de Axl. Como lembrado pelo guitarrista no ano seguinte: "eis que de repente, depois de terminado o álbum, ele (Axl) vem pra mim e fala: 'lembra daquelas suas fitas? Sabe, eu quero...' Ele nem sabia que nós já tínhamos gravado o disco. E ele começou a falar: 'eu gostei dessa música, dessa música, dessa música, dessa música e dessa música.' E eu falei: 'cara - nós já terminamos de gravar o disco. Já era.' Ele retrucou: 'você não pode ter gravado um álbum em duas semanas.' Eu disse: 'sim, eu posso.' É claro que dá pra fazer isso. E essa situação se tornou uma enorme briga."



Em outubro, o publisher do Guns, Tom Zutaut, veio com a idéia de gravar uma versão de "Sympathy For The Devil", dos Rolling Stones, para inclusão na trilha sonora do filme "Entrevista com o Vampiro". Slash concordou, pensando que pelo menos isso reuniria a banda no estúdio.



"Não funcionou", ele admitiu à revista Rolling Stone mais tarde. "Nós nunca íamos ao estúdio ao mesmo tempo - coloquemos dessa forma. E isso foi bem indicativo do que eu não queria que acontecesse."



Em sua autobiografia, Slash diz que Axl transmitiu comentários por outra pessoa de que o guitarrista teria que "regravar meu solo de guitarra para que soasse nota-por-nota como o solo original de Keith Richards". Quando ele recebeu uma fita DAT da música já finalizada, ele "percebeu que havia outra guitarra gravada por cima da minha no solo. Axl mandou que Paul Huge gravasse em cima do meu solo."



Quem afinal era Paul Huge? Também conhecido como Paul Tobias, "Paul é apenas um amigo do Axl", disse Slash à Metal Express. "Ele trouxe o Paul sem me dizer. Eu fiquei bem irritado, porque o principal é a banda - unir a banda... Não é algo como contratar uns músicos de estúdio e fazer o Guns N' Roses - não é assim que funciona."



Para a revista Q, em 2001, ele ainda disse: "esse foi um dos maiores problemas, além de um dos mais pessoais, que Axl e eu tivemos - trazer um guitarrista de fora sem nem sequer me dizer."



O Snakepit agendou uma turnê pelos Estados Unidos, Europa, Japão e Austrália quando Axl tentou atrapalhar os planos. "Axl me pediu para não sair em turnê com Slash", disse Matt Sorum mais tarde. "Se eu saísse em turnê com o Snakepit, isso poderia ter causado conseqüências sérias. Então eu fiquei em casa e trabalhei um pouco com Axl e Duff. Eu tenho certeza de que tomei a decisão certa."



Enquanto isso, Slash convocou Brian Tichy e James LoMenzo, do Pride & Glory, banda de Zakk Wylde. Em 10 de dezembro de 1994 o Pride & Glory realizou o último show de sua turnê em Los Angeles (nessa época LoMenzo já havia saído da banda e tinha sido substituído por John DeServio). Slash se juntou a eles no palco para tocar duas músicas de Jimi Hendrix: "Voodoo Child" e "Red House".



Tanto o Pride & Glory quanto o Guns N' Roses na época eram empresariados pela Big FD Management, de propriedade de Doug Goldstein. Não foi coincidência, portanto, que Zakk Wylde tenha sido chamado para tentar uma vaga no Guns.


Em janeiro de 1995, a banda se reuniu para ensaios com um novo candidato para a vaga de guitarrista. Segundo Slash: "Agora que o Gilby não está mais na banda, Axl veio pra mim e perguntou: 'Que tal o Zakk? Você gosta do Zakk, certo?'"
 
Zakk Wylde: "Axl me ligou quando nós estávamos gravando o álbum Ozzmosis (de Ozzy Osbourne). Eles estavam em meio aos ensaios - fui eu, Slash, Axl, Duff, Matt e Dizzy."




Mas Zakk lembrou: "Nunca havia nenhuma melodia. Nunca havia nenhuma letra de música."



"Eu dizia, 'cara, você já tem alguma letra pronta?'" Wylde disse mais tarde. "E ele respondia, 'cara, tem gente me procesando agora.' Ele ficava as vinte e quatro horas do dia no telefone com seus advogados. Ele meio que ficava nessa, 'eu não vou conseguir escrever nenhuma letra agora - elas seriam todas sobre os processos judiciais que estão rolando.'"



"Então nós ficamos ali tocando por mais de uma semana, nós improvisamos um monte de coisas e dali tiramos umas três ótimas idéias de músicas. Um dos riffs acabou indo parar no primeiro disco do Black Label Society ("Sonic Brew"), na música "The Rose Petalled Garden". O que eu queria tocar, eventualmente, teria sido algo como o Guns sob efeito de esteróides, cara."



Realmente soava mais pesado, mas ninguém tinha certeza de que soava do jeito certo: mais tarde Slash diria que teria soado "como Judas Priest ou algo do tipo".



A situação com o Guns N' Roses causou um problema entre Zakk e Ozzy Osbourne. Zakk tocou no álbum "Ozzmosis", mas não tinha certeza de que poderia sair em turnê com Ozzy (que já tinha um show de aquecimento agendado para o dia 9 de julho daquele ano e uma turnê iniciando em agosto). No final das contas, Zakk, que não conseguia ter uma resposta clara nem qualquer compromisso por parte do Guns, acabou desistindo da idéia.



"A partir do momento que entram em cena todos aqueles porras de advogados e toda aquela merda...", disse Wylde mais tarde. "Eu encontrei com Axl depois daquilo e perguntei 'mas que porra aconteceu?', e ele me disse: 'bem Zakk, eu fiquei sabendo que você queria dois milhões adiantados e o seu próprio ônibus para a turnê.'"



Slash vai, Izzy volta



O álbum "It's Five O'Clock Somewhere", lançado pelo Slash's Snakepit, foi lançado em 14 de fevereiro e o guitarrista iniciou uma turnê promocional no começo daquele mesmo mês.



Sobre um novo álbum do Guns N' Roses, ele disse aos jornalistas: "nós tocamos juntos um pouco, mas ainda não tem nenhuma música pronta... No momento parece que há uma confusão sobre o que seria 'um bom álbum do Guns'."



"Em abril de 1995", lembra Izzy, "Duff me ligou de novo: 'eu estou tentando escrever umas músicas novas para os caras do Guns. Dá um pulo aqui pra me dar uma força.' Eu disse pra mim mesmo: 'bem, porra, depois de tudo, por que não?' Duff e eu compusemos dez músicas em apenas uma semana. Nós até as gravamos como demos."



Izzy falou à Classic Rock sobre como ele deu uma chegada na casa de Axl naquela época. Axl foi amigável e daí "provavelmente um mês depois, em uma noite ele me ligou e nós acabamos chegando no assunto da minha saída do Guns N' Roses. Eu mostrei pra ele o meu lado da história. Eu disse a ele exatamente o que sentia sobre tudo e o motivo pelo qual eu saí... Mas, quer dizer, ele tinha uma porra de um caderninho de notas. Eu o ouvia pelo telefone (virando as páginas) dizendo, 'bem, ah, você disse em 1982, blá blá blá...' e eu fiquei de cara: 'mas que porra - 1982?' Ele estava levantando um monte de história velha. Eu dei de ombros. Mas essa foi a última vez que eu conversei com ele."



Em 28 de julho Duff e Matt tocaram em um show beneficente no clube Viper Room, em Los Angeles, com Steve Jones dos Sex Pistols e John Taylor do Duran Duran, como "Neurotic Outsiders". Em setembro, graças à demanda do público, eles começaram a tocar semanalmente no mesmo local. Pela forma que o à época recém-sóbrio Duff disse, ele tinha tempo de sobra e "eu cheguei à conclusão de que não queria mais esperar até quatro da manhã para poder ensaiar."



No outono (do hemisfério Norte) o Guns N' Roses começou a ensaiar no estúdio caseiro de Slash com Paul Huge. O que só serviu para piorar as coisas: "essa época foi tão desconfortável e estranha que Duff e eu acabamos nos envolvendo em uma discussão", escreveu Slash, "coisa que nunca tinha acontecido antes no estúdio".



Em 31 de agosto de 1995, Axl mandou uma carta para Slash e Duff anunciando que estava saindo da banda e levando o nome consigo, com base em um acordo firmado em 1992.

Depois que o novo contrato entrou em vigor, em 31 de dezembro de 1995, Axl se estabeleceu em um estúdio de gravação chamado The Complex. Aparentemente, as relações de Slash com a banda estavam suspensas já há algum tempo, desde que as negociações do novo contrato começaram, em agosto de 1995.
Por volta de julho, Axl falou com Slash e pediu para que ele retornasse à banda. Slash diz que foi posto em um "período de avaliação", como um empregado contratado do novo esquema de negócios do Guns 'n Roses, e se ele continuasse a trabalhar com a banda após o citado período, o contrato se tornaria automaticamente um compromisso permanente.




Em agosto, a banda deveria voltar ao estúdio para compor e gravar novas músicas. "Vamos ver o que acontece", disse Slash na época. "Faz tempo que eu não ensaio com eles, faz tempo que eu sequer os vejo, desde antes do lançamento do álbum do Snakepit". Como Slash lembrou tempos mais tarde, o resto da banda aparecia para os ensaios - mas quando e se Axl aparecia, era depois que os outros membros da banda já tinham desistido e ido embora, à uma ou duas da madrugada.



Apesar disso, Axl disse à MTV em 30 de outubro que: "haverá um novo álbum do Guns 'n Roses, com um mínimo de 12 músicas e com três músicas extras para lados B".



Em novembro de 1999, Axl afirmou que decidiu, àquela altura, voltar ao básico: "eu originalmente queria gravar um disco tradicional ou tentar voltar ao estilo do 'Appetite' ou algo assim, porque para mim isso seria bem mais fácil de se fazer. Eu estava envolvido em vários processos do Guns e em vários problemas na minha vida pessoal, não tinha tempo de desenvolver um novo estilo ou me reinventar, então eu estava pensando em compor algo mais tradicional, mas eu realmente não fui autorizado a fazê-lo".



"Então, eu optei pelo que pensei que deixaria, ou pelo menos deveria deixar, a banda e especialmente Slash muito felizes. Basicamente eu queria fazer um álbum do Slash com contribuições de todo mundo". E Slash alega que Axl estava tentando "me convencer que tudo estava bem, que aquilo era algo que ele e eu estávamos fazendo como parceiros... Eu não engoli aquela história".









"Eu achei que alguns dos riffs que Slash estava compondo na época eram os mais durões, mais modernos, bluesy, rocking desde o 'Rocks', do Aerosmith", escreveu Axl em um press release tempos depois. "A versão 2000 de 'Rocks', do Aerosmith, ou a versão de 1996 do 'Rocks', se tivéssemos lançado na época devida... Eu sinto que algumas das gravações que fizemos naquele limitado espaço de tempo continham algumas das melhores performances de Slash desde pelo menos os 'Illusions'. Eu estava lá. Eu sei o que ouvi e sei que era bastante excitante".



Não era pra ser. O amigo de Axl e conviva do Guns, Del James, alegou em 2008 que "o Slash voltou para compor no estúdio, totalmente negativo e beligerante, sai da porra da banda e depois publicamente entorta a história para que de alguma forma pareça que ele tenha sido despedido".



A presença de Paul Huge ainda era uma pedra no sapato. Comenta Duff: "imagine que eu e você tenhamos crescido juntos e sejamos melhores amigos. OK, eu estou no Guns n' Roses e eu digo ao resto do pessoal que você vai entrar para a banda. 'ok, Slash, Axl, Matt, caras, este cara está na banda.' 'Duff, você tem um minuto?' 'Não, ele está na banda.' 'Bem, não. Todos na banda tem que dar seu voto, Duff diz, de jeito nenhum!' 'Vocês que se fodam! Este cara está na banda e eu não faço nada a não ser que ele esteja na banda.' 'Tá, quer saber? Vamos tentar tocar com ele, já que você está tão interessado assim...' 'Ei Duff, o cara não sabe tocar.' 'Não tô nem aí.' 'Bem, isso não é muito razoável.'" Em 16 de outubro, Slash admitiu: "no momento Axl e eu estamos deliberando sobre o futuro de nosso relacionamento. Eu voltei à banda faz só três semanas e a minha relação com Axl agora está meio que paralisada".



Em 30 de outubro, Axl mandou um fax para a MTV, anunciando que um novo álbum do Guns n' Roses seria lançado, mas que Slash não estava mais na banda. Duff e Matt continuavam. Em dezembro, Duff comentou: "tudo vai ficar legal... O Guns está gravando um novo álbum, está claro que Matt e eu estaremos em estúdio por pelo menos três ou quatro semanas em fevereiro... Já temos alguns títulos de músicas, mas ainda não temos um nome para o álbum. Com relação ao boato de que uma pessoa quer que nós mudemos, não é verdade".



Mas Axl já havia decidido que as faixas compostas com Slash não iriam ser aproveitadas: "(as músicas de 1996) não são algo com o qual eu gostaria de trabalhar (sem o Slash), porque neste momento só tem uma única pessoa que eu conheço que pode tocar certos riffs de uma determinada maneira. É por isso que esse material foi abandonado".

Ninguém estava com o lugar garantido: o baterista de Prince, Michael Bland, fez um teste para a vaga de baterista em janeiro. O produtor de longa data Mike Clink foi aos ensaios mas não se encaixou.
 
Axl está tentando definir sua direção e está tentando um monte de colaboradores diferentes", disse mais tarde um diplomático Clink.




Um executivo da Geffen, Todd Sullivan, mandou para Axl um punhado de álbuns produzidos por diferentes pessoas, incentivando-o a escolher alguém de quem tivesse gostado. Em vez disso, Todd recebeu uma ligação dizendo que Axl tinha passado por cima dos discos com seu carro. Mais tarde, Sullivan relembrou a situação: "a maioria do material que ele tocou para mim eram apenas rascunhos. Eu disse: 'olha Axl, você tem aqui um material ótimo, que promete. Porque você não pensa em trabalhar e completar algumas dessas músicas?' Ele respondeu: 'hmm, trabalhar e completar algumas das músicas?' No dia seguinte eu recebi uma chamada de Eddie (Rosenblatt, presidente da Geffen), dizendo que eu estava fora do projeto".



O direcionamento musical do novo álbum tornou-se aparente quando o mestre do dance-rock Moby iniciou contatos com Axl em fevereiro. "Sob o risco de soar como um sujo homem de negócios da música, eu me encontrei com Axl na semana passada para ouvir as novas demos da banda", disse Moby na época. "Eles estão compondo com vários loops e, acredite ou não, estão fazendo isso melhor do que qualquer um que eu tenha ouvido ultimamente". Uma das demos que devem ter sido mostradas para Moby era uma faixa ainda em desenvolvimento, "Oh My God". "Musicalmente a faixa foi basicamente composta por Paul Huge (em 1997)", disse Axl, "com Dizzy Reed compondo o gancho musical do coro. Tanto o ex-membro Duff McKagan como o ex-empregado Matt Sorum não conseguiram enxergar o potencial da faixa e não mostraram interesse em sequer explorá-la, que dirá gravá-la".







Robin Finck

Matt Sorum, enquanto isso, apresentou Rose ao ex-guitarrista do NINE INCH NAILS Robin Finck. Sorum disse mais tarde à Spin: "eu disse a Axl para encontrá-lo e ele disse: 'esse é o nosso guitarrista'. Eu disse: 'traga Robin para tocar com o Slash', mas Axl disse: 'eu quero que ele faça os solos'."



A inclusão de Robin acabou por ser a última contribuição significativa de Matt para a banda. Sorum em outra oportunidade lembrou do incidente que o fez encerrar seu período com a banda: "Paul Huge entrou no estúdio e fez um comentário negativo sobre Slash. Eu disse: 'você não diga isso na minha frente'. Daí o Axl se meteu na história, nós discutimos e o negócio acabou por ali".



"Huge me seguiu até o estacionamento e disse, 'volte'. Eu disse: 'não dá, ele me despediu. Você se sente bem, tendo sido a causa da separação de uma das maiores bandas que já existiu?'"



Outro egresso do NIN, Chris Vrenna, foi convidado para substituir Matt Sorum ("eles queriam realizar experimentos com sons eletrônicos. O meu papel deveria ser tocar bateria e fazer programação", disse Vrenna), depois o ex-baterista do Pearl Jam Dave Abbruzzese. Robin Finck, enquanto isso, assinou um contrato de dois anos com o Guns - e então Duff McKagan saiu.









"Eu saí da banda duas semanas antes do nascimento da minha filha Grace (em 27 de agosto de 1997)", Duff disse mais tarde à revista japonesa Burrrn.



"Não era mais divertido. Esse é o motivo. O motivo pelo qual eu fiquei na banda era pra ser uma ponte entre Axl e Slash. Eu fui a um jantar com Axl e com seu empresário. Eu disse: 'Axl, nós nos divertimos muito juntos, mas agora é a sua banda. Eu não tenho interesse em ter você como um ditador. Eu não vim aqui para falar sobre adiantamento de dinheiro para o disco novo. Pode ficar com tudo'".



Em março, Axl foi ver a banda Tool no Hollywood Palladium, antes de recrutar Billy Howerdel, o técnico de guitarra do Tool e também técnico de Pro Tools. Howerdel falou sobre o episódio ao site Blabbermouth:




"Eu primeiramente fui pra lá para programar alguns sons de guitarra, depois concluir encaixando-os com o vocal do Axl, depois o meu trabalho meio que mudou e eu me tornei o cara do computador. Eu não sei o que eu era exatamente. Eu ficava lá a noite toda com Axl enquanto ele trabalhava. A banda vinha durante o dia com um produtor e trabalhava quase que o tempo todo, depois eu chegava às dez da noite, dizia tchau para os caras, Axl aparecia depois e nós fazíamos a nossa parte a noite toda até chegar o dia seguinte".



Howerdel por sua vez apresentou Axl a Chris Pitman - um multi-instrumentista que saiu em turnê com o Tool - que recebeu a tarefa de trazer alguns "sons modernos para a mistura". A banda se mudou para o Rumbo Recorders em San Fernando - onde partes de “Appetite For Destruction” foram gravadas - e Axl começou a montar uma banda de verdade.



O baterista de estúdio Josh Freese falou sobre esse período: "Eu fui lá e fiz um teste com eles, muito doente - eu tinha comido uns frutos do mar estragados em Londres naquele mesmo dia, entrei no avião e fiz o teste à noite. Eu vomitei durante todo o trajeto para o local de ensaios. Axl foi muito legal, contudo, e tinha uma mente bastante aberta quando o assunto era música. Ele disse: 'eu ouvi você tocar com o Devo; eu gosto muito do Devo e quando eu gosto de algo, você ganha alguns créditos por também gostar daquilo'. Eu pensei: 'Esse cara é realmente legal'. Tornou-se óbvio que ele realmente ouve música - ele estava falando de artistas de todos os estilos. Eles me convidaram pra voltar e desde o começo Axl foi muito gentil e nós nos demos bem e nos divertimos juntos. Ele estava completamente aberto, então eu acabei decidindo me juntar à banda".



Freese, por sua vez, trouxe um amigo: o ex-baixista dos Replacements, Tommy Stinson: "eu estava em uma sessão com (Josh Freese). Ele estava brincando, falando que o Guns precisava de um novo baixista. Eu ri e disse que tocaria. No dia seguinte eles me ligaram".



No dia 1.º de maio de 1998, a Geffen Records oficialmente reconheceu a saída de Slash e Duff do Guns n' Roses e Axl assinou um contrato com a gravadora "para lançar aquele disco novo... Até o dia 1.º de março de 1999, e para tanto receberá um adiantamento substancial da Geffen".



Axl estava empenhado em quebrar o silêncio, ao lançar "This I Love" (uma música que ele mencionou em 1993) numa trilha sonora: "What Dreams May Come", um filme de Robin Williams.



O site Splat comentou: "Dawn Soler, o supervisor musical do filme 'What Dreams May Come' me assegurou que Axl 'gostava muito do filme' e de forma bastante interessante sugeriu que ele 'compôs a música para o filme'. Essa afirmação contradiz uma entrevista de 1994 em que Axl disse que já havia composto a música, que muitos fãs especularam que era sobre Dylan, o filho da ex-companheira de Axl, Stephanie Seymour".



A faixa nunca viu a luz do dia. A banda, de qualquer forma, estava ocupada - regravando "Appetite For Destruction". Axl disse à MTV no ano seguinte: "eu regravei o Appetite com Josh Freese na bateria, Tommy Stinson no baixo, Paul Tobias na guitarra... E Robin Finck fez os solos... Com a exceção de duas músicas ('Anything Goes' e 'You're Crazy'), porque nós as substituímos com 'You Could Be Mine' e 'Patience', e por que fazer isso? Bem, nós tivemos que ensaiar essas músicas de qualquer forma para tocâ-las ao vivo de novo, e hoje nós temos um monte de novas técnicas de gravação e certos estilos sutis e viradas de bateria e coisas do tipo que são meio que típicas dos anos 80 que poderiam ser sutilmente melhoradas... Um pouco menos de reverb e um pouco menos de bumbo duplo e coisas do gênero".



Axl viu a regravação de Appetite como uma espécie de 'prova de vestido' para a composição de um novo álbum do Guns com a formação que ele recentemente havia consolidado. "No começo (a nova banda) não queria tocar (as músicas antigas)", disse ele à Rock & Pop FM. "Eles não queriam tocá-las muito, porque eles são músicos. Eles tinham uma atitude punk, assim como o velho Guns N' Roses. Mas, mais tarde, isso se tornou divertido pra eles, ele começaram a apreciar as músicas e gostar de tocá-las".



"Faz muitos anos que nós não escrevemos ou gravamos músicas. Houve muitas mudanças de membros na banda e houve muitas mudanças na gravadora. Quando nós tentamos compor músicas no velho estilo do Guns n' Roses, elas soaram velhas, não soaram vivas. Não dava pra gente fazer aquilo. E eu acho também que isso morreu com o velho Guns N' Roses. As músicas compostas pelos caras para outro álbum, muitos anos atrás, tudo soa velho. Então nós estamos tentando explorar novas coisas para manter a banda viva".



O novo produtor Youth (o ex-baixista do Killing Joke, em alta após ter produzido o U2 e o Verve) tentou fazer com que Axl focasse em fazer novas músicas, tocando na cozinha da casa dele com violões, só para fazê-lo cantar de novo: "fazia uns 18 meses que ele não cantava", Youth disse mais tarde. "Eu acho que esse álbum se tornou um verdadeiro trabalho. Ele estava emperrado e não sabia como agir, então ele o estava evitando".



"Ele tinha umas idéias brilhantes, mas eram pouco mais do que rascunhos. Ele realmente queria deixar o passado para trás e fazer um álbum altamente ambicioso, algo como um cruzamento de 'Physical Grafitti', do Led Zeppelin, com 'Dark Side Of The Moon', do Pink Floyd", Youth disse ao Times em 2005.



Considerando as notas de “Chinese Democracy”, um desses rascunhos era uma faixa que viria a se tornar “Madagascar”. Foi mais ou menos nessa época que Chris Pitman, co-autor da faixa, começou a trabalhar com a banda.



Dave Dominguez, então um engenheiro de som da rumbo, lembrou de alguns outros títulos de músicas do período: "'Oklahoma' estava quase pronta quando eles entraram em estúdio. Axl a escreveu inspirado no atentado a bomba de Oklahoma (mais como um tributo àqueles que morreram, se não me engano). 'Ides of March' era um título provisório de uma das músicas que vieram de um loop que Dizzy trouxe".



Geffen ofereceu um dinheiro extra para Youth se ele conseguisse terminar o álbum em março de 1999. Mas quando ele forçou, Axl resistiu.



Youth: "Axl estava extremamente infeliz. Eu senti que ele estava deprimido porque ele só trabalhava das nove da noite às nove da manhã. Ele havia se tornado um eremita. No final, ele me disse que não estava pronto. Ele estava tentando atingir algum nível espiritual que o fizesse feliz".



Youth desistiu e um novo produtor foi recomendado por Robin e por Billy Howerdel, Sean Beavan (produtor de Marilyn Manson e NIN), enquanto a parte de gravação e programação foi assumida por Critter (o colaborador do Ministry, Jeff Newell).



Toda essa atividade, todavia, significou que James Barber, da parte de artistas e repertório da Geffen, viu o seu relacionamento de um ano com a banda chegar ao fim sem que houvesse um álbum, ainda que ele diga que existia um naquela época: "a versão Robin Finck/ Josh Freese/ Tommy Stinson/ Billy Howerdel/ Dizzy Reed do álbum que foi gravada em 1998 era incrível. Ainda soava como o Guns mas havia elementos de Zeppelin, Nine Inch Nails e Pink Floyd no material".



"Tudo de que o disco precisava era de vocais e de mixagem. Se Axl tivesse gravado os vocais, teria sido um disco totalmente contemporâneo em 1999".



Os rumores de que Axl gostaria de completar o disco até o verão de 1999 e colocar o Guns como headliner de vários festivais ganharam força com o interesse da banda em tocar no Lollapalooza. Logo, contudo, o trabalho no álbum aparentemente afastaria qualquer desejo de sair em turnê.
 
No dia seguinte ao final do prazo estabelecido em contrato para o lançamento do álbum (1.º de março), surgiram rumores de que a banda lançaria uma nova faixa em uma trilha sonora de filme. Alguns meses depois, um mash-up de "Sweet Child O' Mine" (tocada pela formação do "Use Your Illusion") e uma regravação de 1998 foi incluída no filme "O Paizão", de Adam Sandler. A seguinte notícia foi divulgada pela MTV: "(O supervisor musical) Lori Lahman disse que a parte inicial da música é tocada pela formação quase original da banda (Axl Rose, Slash, Duff McKagan, Gilby Clarke e Matt Sorum) e foi gravada ao vivo em um concerto em Paris. Depois de pouco mais de metade da música, a nova banda - presumivelmente Rose, os guitarristas Robin Finck e Paul Huge, o baterista Josh Freese, o baixista Tommy Stinson e o tecladista Dizzy Reed - entra de sola com faixas da mesma música recentemente gravada em estúdio. A introdução da música ainda inclui uma voz repetindo a palavra 'Figaro', que foi uma adição de último minuto 'por diversão', cortesia de Rose, diz Lahman". Também digno de nota é uma pequena parte vocal bem no começo, aparentemente Axl dizendo 'without you' (sem você). A música não foi incluída no CD contendo a trilha sonora. Ao mesmo tempo, começaram rumores dando conta de que o título do álbum seria "2000 Intentions".








O mash-up de "Sweet Child O' Mine" não foi uma mera coincidência e serviu como um precursor para o próximo projeto, mais uma vez para acalmar a Interscope: um álbum ao vivo do Guns n' Roses, "Live Era '87-'93".



Slash: "A idéia original surgiu, é claro, da gravadora, que lentamente começou a entrar em pânico, já que Axl não tinha apresentado nenhum material novo para eles desde a separação da banda".



De acordo com Axl, "Del James trabalhou por alguns anos, de forma esporádica, ouvindo cada show que nós gravamos em fita DAT da turnê de 'Use Your Illusion' e também todas as outras fitas disponíveis".



Nessa época o site de Duff alegou: "Slash foi responsável pela maioria do trabalho no álbum. Ele e Axl foram os que trabalharam mais duro. Stevie, Izzy e os outros também se envolveram de um jeito ou de outro".



Quando o álbum foi finalmente lançado, em 30 de novembro, a recepção foi morna. Para Matt Sorum, o crédito que lhe foi dado foi a coisa mais interessante do trabalho. Naquela época, Sorum comentou: "Axl começou a se meter com uns lances metafísicos e passou boa parte do tempo em Sedona, Arizona. O pessoal de lá estava tirando vantagem de um cara com milhões para torrar com maluquices". Quando o álbum saiu, ele imaginou se Axl tinha tido sua vingança: na capa, Sorum é mencionado somente como um 'músico adicional'.



"'Músico adicional'?", Sorum rosnou para o The Times. "Eis que de repente eu virei apenas o tocador de pandeiro".



Com a banda de estúdio de férias no mês de julho, enquanto Axl trabalhava no "Live Era", Robin Finck teve tempo para ponderar suas opções. Seu contrato de dois anos terminava em 1º de agosto. O ex-patrão e ex-colega de banda Trent Reznor havia terminado de gravar o álbum "The Fragile", do Nine Inch Nails, e Robin voltou à banda no MTV Video Music Awards, com uma turnê começando no mês seguinte.



"Eu ajudei a compor e arranjar e gravei músicas suficientes para vários álbuns", disse Finck mais tarde. "Foi ótimo por um tempo, mas depois acabou se tornando terrivelmente frustrante não ver nada ser terminado porque as letras das canções não eram concluídas. Nenhuma música foi concluída e eu estive lá por dois anos e meio".



"Nós terminávamos a parte instrumental de uma faixa e esperávamos que Axl escrevesse uma letra e/ou música. Eu não agüentava mais trabalhar em canções com títulos como 'Instrumental 34'".



O empresário do Guns, Doug Goldstein, tinha uma visão mais otimista em novembro: "até onde eu posso dizer, nós estamos 99 por cento prontos musicalmente e 80 por cento dos vocais estão prontos. Eu prevejo o fim das gravações ocorrendo em fevereiro ou março e um lançamento no verão".



A saída de Finck causou alguma aflição em Axl. Brian May, eterno guitarrista do Queen, que logo iria contribuir para o álbum, comentou no ano seguinte que "Axl estava sentindo que estava numa posição difícil, porque o guitarrista que trabalhou com ele no novo disco... que compôs a maioria das faixas, saiu da banda e Axl realmente tinha uma ligação emocional àquilo que ele fez, e ainda assim... Ele não quer que o guitarrista apareça no álbum porque ele desapareceu, sabe".



Foi um padrão que viria a ser repetido por alguns anos.



Logo depois que Robin saiu para fazer a turnê com o Nine Inch Nails, a banda começou a trabalhar em uma nova faixa para ser incluída na trilha sonora do filme "Fim dos Dias", de Arnold Schwarzenegger. A música na qual eles começaram a trabalhar era uma faixa antiga, originalmente escrita por Paul Huge e Dizzy em 1997, mais ou menos na época em que Moby estava produzindo o álbum.







As partes de Finck foram apagadas e o guitarrista Dave Navarro (Jane's Addiction/Red Hot Chili Peppers) foi convidado para gravar as partes de guitarra. "Não tem nenhuma história", disse Navarro. "Eles me ligaram e eu fui para o estúdio. Eu fiquei por lá por mais ou menos uma hora e meia. Eu toquei um solo de guitarra e é isso. Ninguém me deu uma direção definida. Eu até acho que foi por isso mesmo que eles me chamaram". (Navarro mais tarde disse que Axl ligou para o estúdio enquanto ele estava gravando e através do telefone pediu para que o guitarrista "tocasse com mais feeling").



Em novembro o título do álbum foi oficialmente anunciado. Em uma entrevista para a MTV, Axl foi questionado sobre o significado do título.



Kurt Loder (repórter da MTV): "O título do novo álbum vai ser 'Chinese Democracy'. Qual o significado disso, já que evidentemente não existe uma democracia chinesa?"



Rose: "Bem, tem vários movimentos que lutam por uma democracia chinesa, e tem muita gente falando sobre isso, que é algo que será legal de se ver. Poderia também ser algo como uma afirmação irônica. Eu não sei, eu apenas gosto do jeito que soa".



Um novo álbum aparentemente também estava nos planos. A revista Metal Hammer informou: "o Guns n' Roses está se preparando para quebrar seu longo silêncio. A banda está terminando os trabalhos em dois novos álbuns de estúdio, ambos produzidos por Sean Beavan, que têm previsão de lançamento simultâneo em outuro. Os dois álbuns, ainda sem título, trazem a nova formação da banda, com o vocalista Axl Rose, os guitarristas Robin Finck e Paul Huge, o tecladista Dizzy Reed, o baterista Josh Freese e o baixista Tommy Stinson. Uma fonte próxima à banda descreve o novo material como sendo 'mais limpo e mais gordo, mas completamente Guns N' Roses. Apesar dos rumores, não há indícios de qualquer influência de tecno ou industrial'".



Após o término das gravações de "Oh My God", Josh Freese e Billy Howerdel se encontraram novamente com tempo livre, que usaram para dar início a seu próprio projeto. Eles o chamaram de A Perfect Circle e gravaram um álbum, "Mer de Noms", que vendeu 1,7 milhão de cópias.



Enquanto o tempo livre de Freese poderia ser facilmente explicado com o final das gravações de bateria, a abundância de tempo livre de Howerdel vinha do trabalho noturno.



Howerdel disse à revista Total Guitar: "à noite, a banda, os roadies e o produtor saíam e eu começava a trabalhar com Axl nas guitarras e às vezes nos vocais. E a música soava ótima naquela época, então é claro que eu estou curioso para ouvir, assim como todo mundo. Eu nem consigo imaginar o que eles fizeram desde então. O que eu fiz naquele álbum, contudo, não vai ser nada de muita significância. A única coisa que eu fiz de significativa foi trabalhar em coisas tão obscuras que eu nem sei se foram incluídas no disco" (Howerdel somente tem um crédito, por "edição digital", na faixa "There Was a Time", do lançamento final).



No final de novembro, Axl Rose tocou cerca de doze músicas do álbum para a revista Rolling Stone, que informou: "imagine o Physical Graffiti, do Led Zeppelin, sendo remixado por Beck e Trent Reznor, e você vai fazer uma idéia do novo som de Axl".



"As músicas combinam a força do hard rock e os toques pops espertos do Guns N' Roses tradicional com texturas musicais surpreendentemente modernas e ambiciosas. Em adição à música título, um 'quase grunge', alguns títulos provisórios de músicas são 'Catcher in The Rye', 'I.R.S.', 'The Blues', 'Oklahoma' - da qual nós ouvimos apenas a parte instrumental - e 'TWAT', que Axl diz significar 'There Was A Time'".



A Rolling Stone ainda afirmou: "(Axl) parece ver o álbum como uma mostra final do seu lado de todas as suas batalhas míticas - notadamente com seus ex-companheiros de banda e, ainda mais dolorosamente, com sua ex-noiva, a supermodelo Stephanie Seymour, de quem se separou de forma feia. Ele fala de seu desejo de que o filho de Seymour, Dylan, possa ouvir o novo álbum. 'Eu espero que ele ouça esse disco quando crescer, se algum dia ele quiser saber a história, ouvir a verdade', Rose diz de forma comedida".







Depois de Dave Navarro, Axl convidou outro favorito seu para contribuir: Brian May.



May: "(Axl) disse: 'Brian, será que dá pra você vir aqui e gravar algum material que eu goste e que me faça não sentir tão mal em descartar o que já tenho?' E eu fui. Eu cheguei lá e acho que toquei em três faixas e fiquei mexendo em várias outras coisas. Mas funcionou bastante bem, pelo que eu posso dizer".



Chris Pitman comentou: "(Trabalhar com Brian May) foi uma das maiores alegrias da minha vida. Pra mim ele é o maior guitarrista do mundo. Só de conhecê-lo e ver que cara legal ele é já foi ótimo. Ele veio e tocou uns solos que detonaram com tudo o que nós estávamos fazendo - mas até aí não dá pra esperar outra coisa dele".



Mas, como sempre, nem tudo foram flores. "(Axl) gostou, mas ele queria fazer takes de cada nota tocada", May comentou mais tarde. "E, sabe, de um dia para o outro Axl ficava no estúdio, algo como das cinco às sete da manhã, pegando pequenos pedaços dos meus solos e dizendo: 'será que dá pra você pedir pro Brian tentar isso?' Ele é totalmente meticuloso, sabe..."



Uma das faixas em que May trabalhou foi "Catcher In The Rye". "'Catcher' é uma ótima faixa", disse Brian quando a faixa vazou para a internet. "A minha guitarra está lá, gravada de forma alta e clara. Foi um prazer participar dessas sessões... Eu gosto muito dessa faixa, sempre gostei... E ainda soa bastante fresca". Mas a contribuição de Brian não consta da mixagem final.



Outros seguiram os passos de Brian May para substituir Robin. O ex-guitarrista de Marilyn Manson, Zim Zum (que, coincidentemente, tocou no álbum da banda produzido por Sean Beavan, Mechanical Animals), foi possivelmente convidado, assim como Stevie Salas (que já tocou com George Clinton e Mick Jagger). Salas comentou: "quando nós fizemos uma jam, cada um dos caras estava mexendo no Pro Tools, adicionando horas de barulhinhos - sabe, sinos e assovios - e a idéia era, pelo que eu pude entender, que eles iriam gravar horas de músicas para depois procurar uma parte que talvez fosse uma ótima idéia de música. Daí eles pegariam esse pedaço de música e começariam dali. Eu achei que eles eram todos loucos".







Richard Fortus, um amigo de Tommy Stinson, também foi considerado antes que Axl se decidisse por Brian Carroll, também conhecido como o virtuose "avant gard" Buckethead. Axl convidou Buckethead no dia de Natal. O guitarrista estava chateado porque ninguém o havia presenteado com um boneco raro do personagem Leatherface (n.: do filme "Massacre da Serra Elétrica") que ele havia pedido como presente. O próprio Buckethead conta a história: "Fui convidado para ir à casa de Axl na noite de Natal. Eu nunca havia encontrado com ele antes. Triste por não ter ganhado o boneco mas tudo bem, mas ainda assim triste. Fui à casa do Axl, ele me presenteia com um pacote embrulhado. A versão Michael Myers já tinha sido lançada há algum tempo, eu sabia que era a mesma caixa. Eu imaginei que era o Michael Myers e abri o embrulho. Lá estava o Leatherface".



Para Buckethead, aquele era um sinal de que Axl o entendia - ele estava dentro. Outro ano havia passado.

Sean Beavan estava fora. Em uma entrevista para o Antiquiet, um website que mais tarde se tornaria notório por vazar o álbum, perguntaram a ele se havia alguma verdade na história de que o "Chinese Democracy" estava à época quase pronto. "Eu achei que sim", disse Beavan. "Eu acho que nós trabalhamos em umas trinta e cinco músicas, algo assim. Mas o cara continua a criar e criar, e com todas as mudanças de formação na banda, muita coisa acaba sendo regravada".








Buckethead trouxe seu parceiro freqüente, Brian "Brain" Mantia, para preencher a vaga de baterista. Brain disse à revista Rhythm: "eu fui lá e conheci os caras e o Axl, e todo mundo foi superlegal. Toda essa história do Guns me animou bastante e eu acho que o disco é incrível - poderia ser o 'Led Zeppelin II' deles."



Com a data de lançamento do álbum ainda indefinida, Axl logo ressurgiu, com sua primeira aparição pública desde 1998, em um show de Gilby Clarke na porção oeste de Hollywood. A MTV disse o seguinte sobre o acontecido: "de acordo com o co-proprietário do clube Slim Jim Phantom (baterista do Stray Cats), Clarke estava fazendo uma jam session com a banda The Starfuckers, no Cat Club na Sunset Boulevard". Axl e Gilby fizeram um dueto em duas músicas dos Rolling Stones, "Wild Horses" e "Dead Flowers".



No outono (do hemisfério Norte), um novo funcionário do setor de artistas e repertório foi indicado para ajudar o projeto a ser terminado. Era alguém especializado em providenciar o "empurrãozinho final" em álbuns que estavam próximos de serem acabados: o legendário produtor de Alice Cooper, Lou Reed e Pink Floyd, Bob Ezrin. Nas palavras de Alice Cooper: "até hoje compositores muito bons que estão prontos para terminar um álbum me ligam e perguntam, 'você tem o telefone do Bob Ezrin?' Bob não é o tipo de cara que diz sim para tudo. Ele vai chegar e te dizer quantas músicas (decentes) você de fato tem... Ele fez isso com o Guns N' Roses".



"Eu sei que Axl ligou pra ele e disse: 'eu quero que você ouça o Chinese Democracy e me diga o que eu tenho (que é bom)'. Bob ouviu o álbum e disse: 'três músicas'. Isso depois de sete anos de trabalho". No meio de setembro, as lojas foram informadas de que “Chinese Democracy” estava planejado para ser lançado em novembro, o que parece confirmar a idéia de que o disco estava praticamente pronto e - antes de sua opinião negativa - Ezrin apenas havia sido chamado para alguns palpites finais.



Foi provavelmente a essa altura que Baker mudou a banda para o Village Recording Studios em Los Angeles. A equipe do estúdio também seria alterada com a inclusão do engenheiro de Pro Tools Eric Caudieux (e, presumivelmente, o novo engenheiro principal Caram Costanzo).



Axl voltou à demo que Duff e Izzy tinham preparado em 1995. Izzy disse à revista Popular em 2001: "em 1995, eu e Duff gravamos músicas para a banda. Nós gravamos uma fita que acabou em lugar nenhum. Eis que de repente, alguns meses atrás, eu recebo uma mensagem em minha secretária eletrônica: 'Ei! Aqui é o Axl, eu preciso de uma cópia daquelas músicas que você fez'. Tinha uma chamada 'Down By The Ocean' ou 'Down By the Sea', talvez eles a tenham usado, eu não sei".



"This I Love" é outra música antiga que talvez tenha sido trazida de volta em 2000. Howard Karp trabalhou nessa música como engenheiro de som assistente com Caram Costanzo e com o produtor Roy Thomas Baker. Karp: "foi muito chato, me desculpe dizer, era só o Axl e seu piano (sem vocais) e um bando de idiotas correndo pra lá e pra cá servindo e agradando o cara. Eu não tenho certeza de que algum dia eles lancem esse disco... Uma pena".



Outra faixa que talvez tenha sido trazida como resposta à opinião dura de Ezrin pode ser "Shackler's Revenge". A música original, simplesmente chamada "Shackler", foi tocada por Buckethead e Bootsy Collins, e foi lançada na trilha sonora do desenho DragonBall Z, “The History of Trunks”, em dezembro de 2001. Depois a mesma música apareceu no DVD "Secret Recipe", de Buckethead, em 2005. O relacionamento profissional com Ezrin já havia se deteriorado: Axl mais tarde confidenciou a Tom Zutaut que o trabalho no álbum havia sido paralisado por volta de agosto de 2000, o que tanto pode corresponder à opinião pouco elogiosa de Ezrin ao material ou pode se referir à situação que Ezrin foi intimado para ajudar a consertar.







No final de outubro, foi anunciado que a banda tocaria no festival Rock in Rio, em janeiro de 2001. Um show de aquecimento começou a ser planejado e a banda começou a ensaiar como um octeto no início de dezembro (veja abaixo nota publicada aqui no Whiplash! na época):



Guns N’Roses reestréia antes do Rock in Rio

Axl mais tarde comentou: "Essa banda não começou com um bando de caras se conhecendo em um bar ou na esquina do bairro, demorou um longo tempo para juntar esses caras e depois fazê-los desenvolver uma química entre eles. Quando nós tocamos pela primeira vez juntos, em Vegas, Robin e Buckethead sequer se conheciam. Era uma situação de dois guitarristas solo tentando matar um ao outro com suas habilidades. Eu até acho que eles conseguem ser cordiais um com o outro e tudo o mais, mas quando chega a hora de tocar, começa a rolar aquela coisa de 'macho', do tipo: 'quem é o guitarrista solo de verdade?'"



Um show na véspera do ano novo na House of Blues de Las Vegas foi anunciado. Ainda havia esperança para 2001

"Eu atravessei um traiçoeiro mar de horrores para poder estar com vocês aqui esta noite", Axl disse para a platéia. Duas semanas depois eles tocaram um set de 140 minutos para uma platéia de 190.000 pessoas no festival Rock In Rio 3, no Rio de Janeiro, tocando outra faixa nova, "Madagascar".

Um retorno triunfante. Havia conversas sobre datas de shows no verão do Hemisfério Norte e sobre o lançamento do álbum. Conforme revelado em detalhes no número 116 da revista Classic Rock, Tom Zutaut, o homem que contratou o Guns N' Roses e o único membro do setor de artistas e repertório até então que havia conseguido extrair um álbum da banda, foi trazido de volta para o projeto.




Nas palavras de Zutaut: "nós substituímos várias faixas de bateria: por conta da crença de Axl de que o disco tem que ter a energia das pessoas envolvidas em sua criação, nós tivemos que regravar as partes de Josh Freese. E o desempenho de Josh foi realmente espetacular".



"Eu é que não gostaria de estar na pele de Brain. Basicamente o que nós dizíamos pra ele era 'nós temos aqui uma performance brilhante, tudo o que precisamos é que você a recrie'".



Brain: "eu falei pra eles, ok, então eu vou aprender as músicas, entrar no estúdio e tocar tudo de novo, mas a reação do Axl foi de falar 'não, apesar de eu gostar muito do que o Josh tocou eu quero o seu estilo'. Eu perguntei pra ele: 'bom, o que isso significa exatamente?' Roy era o produtor àquela altura e ele achava que eu deveria 'basicamente tocar exatamente o que o Josh tocou. Exatamente, nota por nota".



Mantia recebeu uma transcrição de todas as partes tocadas por Freese. "Então, mais ou menos um mês depois, (o transcritor) me ligou e... Deve ter sido um calhamaço grosso deste jeito (mostra uma distância de mais ou menos trinta centímetros entre as mãos) de partituras, eram todas as músicas transcritas, nota por nota, e estamos falando de músicas de sete minutos. Com coisas como o Josh fazendo um solo no final... E eu fiquei ali, aprendendo as músicas durante, sei lá, umas duas semanas. Eu toquei e toquei até que peguei as músicas. Daí eu chegava no estúdio e falava, 'Roy'... Enquanto todo mundo no estúdio, e estamos falando de um estúdio que custa dois mil dólares por dia, todo mundo estava ali sentado, assistindo desenhos, ou o Exorcista, ou algo do tipo".



Com a missão de conseguir o som perfeito de bateria para “Chinese Democracy” - o som de bateria de Dave Grohl em “Smells Like Teen Spirit” - Zutaut comprou uma cópia de “Nevermind” e fez os engenheiros copiarem o som de bateria. "Só faz seis meses que eu tenho pedido isso pra eles!" disse Axl quando ouviu o som da bateria.



Zutaut também estava ali para verificar para onde estava indo todo o dinheiro ("uma área em que havia um montante astronômico de dinheiro sendo gasto era em material alugado", disse ele. "Pelo que eu me lembre, nós conseguimos economizar por volta de 75 mil dólares por mês do orçamento").



E ele atraiu Buckethead de volta - que havia saído, frustrado pelo que via como inatividade da banda, além de uma tensão criativa com Roy Thomas Baker - com uma promessa de que o guitarrista teria seu próprio galinheiro no estúdio ("se eu pudesse ter meu próprio galinheiro no estúdio eu tocaria bem melhor", Buckethead lhe disse). Dois dias depois, eles construíram o galinheiro e Bucket trouxe todos os seus pertences e brinquedos e colocou palha no chão.



"Quase que dava pra cheirar as galinhas", disse Tom Zutaut. O trabalho continuou." (Axl) vinha ao estúdio uma ou duas vezes por semana", disse Zutaut. O resto da equipe mandava um punhado de faixas nas quais havia trabalhado durante o dia para que ele pudesse ouvir à noite. Uma música que estava causando problemas era "Madagascar", que contém samples do famoso discurso de Martin Luther King ("I have a dream" - Eu tenho um sonho) - um sample cujo uso eles não tinham autorização durante a estadia de Zutaut. "Axl sente que esse discurso em particular está no âmago da mensagem que quer passar através dessa música", disse Zutaut, "e ele me disse que se o espólio de Martin Luther King não desse permissão para que ele o utilizasse, a música não constaria do álbum".



O trabalho continuou num ritmo decente. Por volta do final do ano, os produtores do filme 'Falcão Negro em Perigo' entraram em negociações com os representantes do Guns para a inclusão de "Welcome To The Jungle" na trilha sonora do filme. Em uma projeção do filme - na qual Zutaut alega que foi um mal entendido e uma tentativa deliberada de alguém da trupe de Axl de despedí-lo - Axl chegou com horas de atraso, estrilou na presença de outras pessoas por causa da projeção do filme já ter começado e dispensou Zutaut.



Assim como outros funcionários do setor de artistas e repertório antes dele, Zutaut durou um ano com a banda. Hoje em dia, ele crê que chegou perto de terminar o álbum: "quando eu saí, eu achava que havia provavelmente 11 ou 12 faixas que só precisavam de uma mixagem final. Eu teria dado mais uns três meses para mais alguns overdubs e outros três para a mixagem. Nós poderíamos ter lançado o álbum em setembro de 2002 - na pior das hipóteses o álbum teria saído na primavera de 2003 (no Hemisfério Norte)".



Em dezembro, a banda se reagrupou com vistas a mais shows, anunciando duas apresentações de ano novo em Las Vegas. Na cidade de férias, Slash deu alguns telefonemas e conseguiu colocar seu nome na lista de convidados para o show de 29 de dezembro. Mais tarde, um representante da firma que empresariava a banda, acompanhado de integrantes da segurança do hotel, foi ao quarto do ex-guitarrista da banda e lhe disse para que ficasse longe do show, "para lhe poupar do vexame de ser barrado na porta".

Os detalhes sobre a dispensa de Roy Thomas Baker são escassos, alguns até sugerindo que ele teria sido despedido "por acidente", por conta de um suposto mal-entendido. Roy teria dito que seria "despedido só uma vez". Qualquer que seja a razão, fontes próximas à banda disseram que ele foi mantido na folha de pagamento por meses após sua saída. A esperança era de que ele voltasse para terminar o trabalho.

O talentoso executivo da Interscope Mark Williams era o próximo na fila para fiscalizar o projeto. Williams, o último homem do setor de artistas e repertório, tinha uma lacuna digna de nota em sua história por volta de 2002 (ao abandonar o projeto, ele lançaria a carreira solo de Gwen Stefani, vocalista do grupo No Doubt, faria a cantora M.I.A. assinar contrato com a Interscope e seria eleito o homem de artistas e repertório n.º 1 do mundo em 2005). O álbum estava aparentemente agendado para o segundo semestre de 2002. Ao que tudo indicava, eles ainda estavam mantendo a estimativa de Zutaut de que o lançamento ocorreria em setembro.




A banda anunciou algumas aparições em festivais no final do verão, no Japão e na Inglaterra (no festival de Leeds) e havia rumores de que eles fariam uma turnê pelos Estados Unidos no outono do hemisfério norte que duraria até próximo do Natal. "A nossa expectativa é a de que o álbum seja lançado antes do final do ano", um funcionário da Sanctuary - empresa que cuidava do empresariamento da banda - disse ao site metalhammer.co.uk.







Em maio, Richard Fortus foi chamado para substituir Paul Huge. "Eu já havia participado de algumas gravações com Tommy Stinson e Brain. Tommy e eu somos amigos já faz algum tempo, então quando a banda começou a procurar alguém ele me ligou e perguntou se eu tinha interesse em fazer um teste".



No verão (no Hemisfério Norte), foram requisitadas orquestrações para um total de oito faixas. O compositor de trilhas sonoras de filmes Marco Beltrami foi chamado para cuidar dos arranjos orquestrais: "eu me encontrei com Axl e ele me mostrou várias músicas, pediu a minha opinião sobre elas e eu lhe disse o que achava que elas precisavam". Beltrami acabou por orquestrar quatro músicas: “Seven”, “Thyme”, “The General” e “Leave Me Alone”.



"Eles já haviam gravado as faixas e eu adicionei as partes orquestradas a elas. A música, na época em que eu trabalhei com a banda, era bem eclética. Eles já tinham as canções praticamente prontas, mas não tinha letras nas músicas com as quais eu trabalhei. Eu achei que o álbum sairia em setembro".



Mais ou menos nessa mesma época, o arranjador inglês Paul Buckmaster trabalhou nas músicas "The Blues", "TWAT", "Madagascar" e "Prostitute". "'Prostitute' é uma faixa bem mid-tempo, com um ritmo agressivo", ele disse ao site Splat. "Os arranjos de cordas que eu compus (um grupo de 32 componentes: 10 violinos principais, oito violinos secundários, seis violas e oito violoncelos) dão às músicas uma outra dimensão, de gelo e fogo - assim, poderosas".



Ambos são creditados no produto final por "arranjos orquestrais" em "Street Of Dreams" (cujo título provisório era "The Blues"), "There Was a Time" (ou "TWAT"), "Madagascar" e "Prostitute".



Como aconteceu na época de "Use Your Illusion", Axl parecia estar perto da linha de chegada na época em que se aproximava o início da turnê. Uma vez mais, ele aparentemente não teve escrúpulos em possivelmente abandonar as gravações do álbum para cair na estrada.



Conforme a data de início da turnê se aproximava, os planos foram novamente postos em dúvida. Um promotor indonésio alegou que o Guns N' Roses se apresentaria na Austrália e na Coréia antes de rumar para a Indonésia no final de setembro e que o álbum estava agendado para ser lançado em novembro.



Em uma semana, a notificação de setembro foi esclarecida. No dia em que os cancelamentos de setembro se tornaram oficiais, Axl chegou na China. Seus assessores enviaram um comunicado oficial à imprensa após a apresentação em Hong Kong. Todas as apostas haviam sido canceladas e a turnê sequer havia iniciado.



Axl: "trata-se apenas de um aquecimento, para que nós possamos ter uma visão mais clara de como começar nossa turnê no outono (no Hemisfério Norte). E é um aquecimento para a turnê de primavera. O negócio está começando agora e, assim como foi a turnê dos 'Use Your Illusions', que durou dois anos e meio, essa agora vai rolar pelos próximos dois ou três anos, vamos ver como as coisas acontecem".



"O Guns N' Roses voltará ao estúdio imediatamente após os shows de agosto para dar os retoques finais no próximo álbum, 'Chinese Democracy'", disse ainda o vocalista. "Eu sofri um monte de pressão na época da gravação dos Illusions, tanto internamente no Guns como externamente através da imprensa, isso acabou refletindo nos álbuns. Não é algo pelo qual eu esteja louco de vontade de passar de novo".



"Tem várias músicas novas que foram compostas neste último ano que nós sentimos que... ok, elas detonam um monte do material da lista anterior... Eu acho que nós vamos compor um monte de coisas interessantes com Richard e ele já gravou algumas bases e alguns solos no álbum. Mas agora é hora de parar (de adicionar músicas novas) e vestir o bebê".



Em 14 de agosto, no show de abertura da turnê na China, Axl revelou que a arte da capa já estava pronta. Durante o show, Axl contou uma história sobre a arte da capa - e a foto que de fato se tornaria a capa do álbum (a bicicleta com o grafite do Guns N' Roses atrás) apareceu nos telões do palco. "Não fui eu que pintei isso, então um de vocês deve ter feito isso!"







Na Inglaterra, a controvérsia começou a tomar forma quando o show do Guns n' Roses no festival de Leeds foi atrasado por mais de uma hora, resultando em uma invasão para os organizadores. O atraso foi aparentemente causado por mudanças no set e pelo montante de equipamento extra, tanto para o The Prodigy quanto o Guns n' Roses. Pequenos atrasos durante o dia se acumularam, o que significava que a equipe do Guns não poderia começar a preparar o palco antes das 10 e meia da noite, o que significaria que a banda somente subiria ao palco após as onze horas da noite - mais de uma hora além do programa e tocaria por quase duas horas, terminando pouco antes da uma hora da madrugada (o show deveria ter terminado à meia-noite).



Durante o último show europeu, na Docklands Arena, em Londres, Axl mencionou mais uma vez a idéia de um álbum com várias partes: "tem havido alguma preocupação de que como nós tocamos cinco ou seis músicas novas, não haverá muito mais no álbum. Au contraire, mon frère. Nós só estamos tocando as músicas que não planejamos lançar como singles ou coisa do gênero. Vocês terão 18 músicas e ainda umas 10 faixas bônus. E quando a gravadora achar que o ciclo do álbum tiver terminado, vocês vão ter outro tanto. Até lá, eu já deverei ter terminado o terceiro álbum. Vamos ver se tudo dá certo, meninos e meninas".



No final de setembro, no show anual de prêmios da MTV, rolaram boatos acerca de um grand finale. Um telão se ergueu, revelando Axl com trancinhas no cabelo e uma camiseta de futebol americano com o número 99. O Guns N' Roses tocou "Welcome To The Jungle", "Madagascar" e "Paradise City". Ele se retirou do palco com uma mensagem criptografada, porém tentadora: 'primeiro round'. O plano-B ainda estava em andamento: faça a mini-turnê, participe do VMAs, volte para o estúdio e complete o álbum, visando um lançamento em novembro. Novos rumores davam como certa a data de 10 de dezembro para o lançamento do álbum, com “Catcher In The Rye” sendo lançada como single/prévia. Os anúncios foram cancelados no último minuto.







Mas, de acordo com uma entrevista concedida pelo tecladista Dizzy Reed ao Plain Dealer, o álbum sequer havia sido mixado.



A essa altura, Axl fez a primeira alusão ao fato de “Chinese Democracy” ser uma trilogia de álbuns - o que também foi sugerido por Sebastian Bach naquele ano no número 120 da revista Classic Rock: "Axl disse, 'The General' será lançada em 2012 - é o final do enigma da trilogia. Ele é como o George Lucas cara!"



Axl: "nós sempre chegamos com novas idéias nas quais trabalhamos enquanto continuamos os trabalhos, é um processo realmente lento porque fica a cargo de nós mesmos tentar descobrir o que está pegando. É um processo coletivo entre os músicos, mas os músicos não têm certeza de como tentar dominar o mundo no estilo do Guns N' Roses. Essa então é a minha responsabilidade. Levou um longo tempo, mas agora está funcionando bem, eu acho que nós temos o disco certo, o plano é lançar o álbum, gravar algumas faixas bônus, e mais ou menos daqui a um ano lançar outro disco e lançar um terceiro disco. Vai ser um trabalho em três etapas e estaremos em turnê por um tempo bastante longo". Como se vê, naquela altura a trilogia de álbuns estava em pé - nem que fosse só na cabeça de Axl.



No começo de novembro o cancelamento de um show do Guns em Vancouver, no Canadá, resultou em tumultos provocados por aproximadamente nove mil fãs. Vitrines foram quebradas, pedras foram atiradas na polícia. A polícia atacou energicamente com cães, bateu nos protestantes com cassetetes e espirrou gás de pimenta. Outro show, desta feita na Filadélfia, foi cancelado após a banda de abertura. Motivo: Axl se recusou a aparecer.



O Clear Channel e a banda terminaram sua parceria, firmada para a turnê, sem dar maiores detalhes.



Um porta-voz do grupo disse: "eles voltarão para o estúdio em janeiro para dar os toques finais em 'Chinese Democracy', que será lançado na primavera (do Hemisfério Norte)".

No meio de março Richard Fortus alegou que a banda voltaria a se reunir em maio e que Axl estava terminando os vocais e alguns overdubs. Os rumores de participações em trilhas sonoras abundaram, com alegações de que faixas do álbum seriam reservadas para o filme "Exterminador do Futuro 3". Fortus afirmou que o album poderia ser lançado no outono daquele ano (no hemisfério Norte), quando então a banda iniciaria uma nova turnê.

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Axl, de sua parte, parecia também estar bastante contente com o álbum. Incrivelmente, o frontman do Guns perambulou por um clube de strip de Las Vegas quase vazio e surpreendeu a todos ali presentes com uma prévia do álbum através do sistema de PA do recinto.




Naquele verão, a gravadora MCA fechou as portas e seu cast foi transferido para a Geffen. Os executivos do selo anunciaram que iriam lançar uma coletânea de "greatest hits" do Guns n' Roses. Axl foi informado através de uma carta enviada pela Universal - a empresa-mãe da Geffen.



As coisas se tornaram ainda mais bizarras. No final daquele verão o 'catcher' do time de beisebol New York Mets, Mike Piazza, encontrou um CD com o título de 'Guns n' Roses. I.R.S.' no meio das correspondências enviadas por seus fãs. Ele então foi ao programa de rádio apresentado pelo DJ Eddie Trunk, que tocou algumas das faixas. As linhas telefônicas da emissora logo estavam abarrotadas de telefonemas, um dos quais era dos empresários da banda, que pediram que o disco fosse devolvido.



Tommy Stinson alegou que o disco seria lançado antes do final do ano, durante a turnê. A intenção de Axl era terminar as gravações e iniciar, no meio do mês de setembro, os ensaios para a turnê. No entanto, no decorrer da turnê o lançamento do álbum foi mais uma vez adiado, dessa vez para o começo de 2004.



Este fato daria força aos boatos de que o trabalho no disco estaria sendo gradualmente reiniciado no meio do ano. Marcaria a terceira grande mudança no processo, depois da saída de Slash em outubro de 1996 e a dispensa, por Bob Ezrin, da maior parte do material gravado e produzido por Sean Beavan no inverno de 2000.



Alguns dias depois, o site Amazon começou a fazer referência a um novo álbum do Guns n' Roses em seu catálogo, com previsão de lançamento para o dia 25 de novembro. Descobriu-se depois que esse novo lançamento seria a coletânea de 'greatest hits' da banda. A referência desapareceu do site em 22 de outubro, poucos dias após a divulgação do título do álbum.







"Os representantes da banda conseguiram segurar (os planos para o lançamento de uma coletânea) com mais outra promessa de entregar o álbum 'Chinese Democracy' até o final do ano", o New York Times informou.



Em novembro, o Guns foi confirmado como atração do festival Rock In Rio Lisboa, marcado para o mês de junho do ano seguinte, e também havia rumores de uma turnê européia no verão (no hemisfério Norte) de 2004, incluindo uma aparição como headliner no festival alemão Rock-am-Ring.



O ano de 2003 passou e nada de lançar o álbum “Chinese Democracy”. No final do ano, Buckethead saiu da banda. De novo.


Este é o famoso ano em que a Geffen cortou os fundos para a gravação de “Chinese Democracy”, afirmando que "todos os custos aprovados e provisionados haviam sido excedidos em milhões de dólares". Em fevereiro, várias lojas afirmaram que a coletânea do Guns N' Roses seria lançada em março. Uma fonte afirmou para a agência Reuters que a única razão pela qual a gravadora Geffen seguiu adiante com a idéia do "Greatest Hits" foi porque Axl não tinha entregue o álbum "Chinese Democracy".
 
Axl tomou a iniciativa de ajuizar uma ação judicial contra a gravadora Geffen, juntamente com Slash e Duff McKagan, para paralisar o lançamento não-autorizado da coletânea. Axl mencionou a preocupação de que os fãs da banda seriam induzidos a acreditar que o álbum de hits seria um novo álbum do Guns N' Roses, e também o fato de que esse disco iria atrapalhar o lançamento de "Chinese Democracy".




O pedido de liminar foi rechaçado e a coletânea foi de fato lançada em março, atingindo vendas estimadas em 1,8 milhões de cópias sem qualquer promoção por parte da banda.



No mesmo mês, Axl cancelou a participação já agendada do Guns N' Roses no Rock In Rio Lisboa, citando como motivo a saída de Buckethead da banda. Nessa mesma oportunidade, ele indicou que o álbum poderia ser lançado no outono daquele ano. Os trabalhos para a gravação do álbum foram retomados em San Fernando, no Woodland Ranch, de propriedade de Curt Cuomo, com Axl assumindo a produção.







Em seu website, o guitarrista-virtuose Ron Thal, também conhecido como Bumblefoot, revelou que foi convidado por Axl para substituir Buckethead. "Eles querem que eu grave com a banda em setembro. Na verdade quem me recomendou para eles foi Joe Satriani", disse Ron.



O programa Behind The Music, do canal musical VH1, informou que “Chinese Democracy” estava previsto para ser lançado em novembro. Logo os empresários da banda trataram de desmentir o boato, ao mesmo tempo em que algumas das faixas entraram no processo de mixagem.



"Originalmente nós tínhamos uma porrada de músicas nas quais estávamos trabalhando", disse Tommy. "Nós meio que ficamos tocando as canções e continuamos moldando-as com o passar do tempo".



"Algumas das músicas são bastante épicas na duração, mas essa sempre foi uma característica do Guns, não? Eu não acho que vai ser um álbum particularmente longo, mas eu acho que as seis músicas que ouvi são bem épicas. Digo, elas são... Enormes, sabe".



Dizzy: "Eu ouvi várias versões de algumas das músicas mais legais, e todas elas soam ótimas. Vai ser um trabalho nada invejável pra quem quer que vá mixar as músicas. Mas é melhor que eles coloquem o que eu toquei na mixagem! Eles originalmente tinham novembro em mente, mas talvez agora fique pra fevereiro. Vai ser ótimo".

No começo do ano foi anunciado que o Sanctuary Music Group - do qual o empresário do Guns n' Roses, Merck Mercuriadis, era presidente - havia assinado um contrato com Axl Rose no valor de 10 milhões de dólares.
 
No final de janeiro, Tommy Stinson informou que o álbum estava próximo de ser finalizado e estava sendo mixado. Havia rumores de um lançamento no final da primavera do hemisfério norte, seguido de uma turnê. No fim de fevereiro, a loja HMV divulgou o dia 25 de maio como data de lançamento. No final de maio, uma nova data, em setembro, surgiu.




"Axl ainda está terminando os vocais do álbum e eu ouvi rumores de que o lançamento ocorrerá antes do final do ano", disse Richard Fortus.







A harpista Patti Hood, que havia tocado com a antiga banda de Pitman, Lusk, e saído em turnê com eles em 1997, revelou que estava trabalhando no projeto: "eu toquei em uma música chamada This I Love", disse ela. "É uma das músicas mais bonitas que eu já ouvi. Eu gravei minhas partes há mais ou menos dois anos e meio. Axl não estava presente nas gravações mas eu o conheci depois".



Aparentemente, a Geffen contactou Axl para conversar sobre o lançamento de outra coletânea para compensar a ausência de um novo álbum de estúdio. A Universal estava planejando lançar um “Greatest Hits parte II”, com data de lançamento programada para março. Essa idéia acabou sendo abortada entre rumores de que Axl queria que o logo da banda nova estivesse na capa, o que foi recusado por Slash.

Em 13 de janeiro, Axl foi à festa de lançamento da nova turnê do Korn no Hollywood Forever Cemetery, e deu suas primeiras declarações à imprensa em mais de três anos. "As pessoas vão ouvir música este ano", disse o vocalista. "Estamos trabalhando em 32 músicas, 26 delas já estão quase prontas." A revista Rolling Stone noticiou que 'dentre as favoritas de Rose estão músicas como "Better", "There Was a Time" e "The Blues".

Em fevereiro, Axl foi à festa da empresa de lingerie Victoria's Secret, na qual Richard Fortus se apresentou. De acordo com o New York Times, "o roqueiro de tranças estava tão ansioso para entrar no clube que ofereceu aos donos um pequeno suborno - uma audição exclusiva de seu novo álbum, 'Chinese Democracy'."




O DJ colocou o CD e Axl ficou insistindo para que ele tocasse uma das músicas repetidas vezes. "Todos", segundo foi noticiado, "ficaram surpresos com a qualidade do material."



Para uma festa de backstage para o trio de blues The Big Damn Band, de Indianápolis, Axl levou um CD com várias músicas de "Chinese Democracy", novamente afirmando que o novo trabalho seria vendido como uma coleção de 3 CDs. Em meados de abril foram anunciados quatro shows de aquecimento no Hammerstein Ballroom, em Nova York. Os shows ocorreriam entre 12 e 17 de maio. Enquando isso a banda procurava um substituto para Buckethead.



Os quatro shows serviram para introduzir Bumblefoot como o novo guitarrista. Axl fez uma aparição na rádio KROQ e anunciou que a banda se apresentaria no festival Inland Invasion, em 23 de setembro.



DJ: "O CD sai ainda este ano?"



Axl: "Sim, com certeza."

Veja abaixo nota publicada na época:

Enquanto isso, o trabalho de estúdio continuava. Disse Merck: "supostamente nós deveríamos terminar o álbum em maio, antes do início da turnê. Nós mandamos nossos engenheiros de som para Nova York, onde esperamos por mais de um mês pela musa, que nunca apareceu."




"Temos material quase pronto que dá pra encher uns dois álbuns", Axl disse a Eddie Trunk, "e a maioria dos vocais já foi gravada. E há mais metade de um álbum na qual estamos trabalhando. Tem músicas em que ainda estamos mexendo, quer dizer, nós gravamos por volta de dois e meio, três álbuns. Ainda vai ter coisa que vai pular do um para o dois."



Algunas músicas, contudo, aparentemente foram reservadas para o primeiro álbum. Um press release oficial dizia: "nas quatro noites (no Hammerstein Ballroom), o público foi apresentado a quase metade do novo álbum da banda, Chinese Democracy, com performances de 'Chinese Democracy', 'Better', 'There Was a Time', 'Madagascar', 'IRS' e 'The Blues'."

 
Em Newcastle, em 19 de julho, o show terminou mais cedo em razão de objetos atirados ao palco. Fora esse incidente, a turnê prosseguiu sem maiores problemas, com a mudança mais memorável acontecendo no final.




Como foi dito em um press release: "o Guns n' Roses completou sua turnê européia na noite passada com o segundo show lotado na Wembley Arena, em Londres. O último show em Wembley quase não aconteceu em razão do vocalista Axl Rose ter sido diagnosticado com pressão baixa e baixo nível de açúcar no sangue na manhã de domingo. Ele ficou doente após fazer dois shows no sábado à noite, um deles um show surpresa semi-acústico."



"Rose ficou doente algumas horas depois do final da performance de 75 minutos, com um médico sendo chamado a seu quarto de hotel. Ele conseguiu terminar o set de duas horas até a última música - 'Nightrain' - e desmaiou. O microfone foi entregue a seu amigo, Sebastian Bach, que foi para o bis e cantou 'Paradise City'."



A primeira turnê européia completa em mais de 15 anos havia terminado.



Em 23 de setembro Axl deu uma festa em sua mansão após o show da banda no festival Inland Invasion e tocou o álbum inteiro para seus amigos à beira da piscina, incluindo Sebastian Bach.



"É um álbum bem legal", disse Bach. "Tem uma música chamada 'Sorry' que é quase que um doom metal, com um vocal bem limpo do Axl sobre um ritmo lento, massacrante, que tem um clima bem malvado. Não consigo tirar essa música da cabeça." De acordo com Merck, a recepção positiva pareceu estimular Axl: "Axl reapareceu e teve dois ou três dias bastante produtivos."

No dia 18 de outubro, a revista Rolling Stone noticiou que o engenheiro de som Andy Wallace, "que mixou 'Nevermind', do Nirvana, estava trabalhando no projeto, de acordo com uma fonte próxima à banda. 'Estamos absolutamente maravilhados com a mixagem', disse a fonte." Conhecendo a apreciação de Axl pela performance de Dave Grohl em "Smells Like Teen Spirit", essa informação não chegava a ser surpresa. (De fato, Wallace é creditado nas mixagens de "Chinese Democracy", juntamente com Caram Costanzo e Axl) Merck, por outro lado, alegou que a banda estava "nos estágios finais da renegociação do contrato com a gravadora, que foi um processo longo e lento. A discussão começou há mais de um ano mas só tomou um rumo mais sério depois que os executivos começaram a ouvir as mixagens. A gravadora se recusou a concluir a renegociação até que estivéssemos prontos para entregar o álbum pronto."




No dia 8 de outubro um anúncio de TV da empresa Harley-Davidson trazia como trilha sonora a música "Paradise City". Foi divulgado que uma outra versão do anúncio traria "a nova, inédita faixa do Guns n' Roses, 'Better'". Em 23 de outubro, de fato, o site da Harley-Davidson lançou a versão do comercial com "Better" como trilha sonora, que rapidamente foi trocada pela versão com "Paradise City". Repentinamente uma versão de "Better" estava disponível na internet.



Quanto ao álbum, um press release disse: "o único comentário neste momento é que faltam 13 terças-feiras para o final do ano." Merck seguiu essa linha de pensamento: "O álbum sai este ano", disse ele em outubro. "Ainda faltam 10 terças-feiras até janeiro. O álbum sai em uma delas."



Talvez até saísse em alguma das lojas anunciadas: "eu não sei se vamos anunciar uma data de lançamento", disse Mercuriadis. "Quem sabe você entra na loja de discos de sua preferência numa terça-feira dessas e acha o disco." Alguns meses depois, Merck se desculpou por seus "comentários brincalhões".



Axl, por sua vez, deixou no ar que talvez toda essa conversa sobre o lançamento do álbum tenha sido usada "como uma ferramenta pelos empresários para vender a turnê para vários promotores, e se fosse esse o caso, foi obviamente injusto com eles." O dinheiro certamente estava contado, já que o próprio Merck comentou: "(no começo de outubro) eu seriamente pensei em adiar o começo da turnê, novamente, já que o álbum era de suprema importância mas... Nós precisávaos do dinheiro para conseguir completar o álbum e manter a banda viva."



Merck estava de saída. "O último show em que Merck apareceu foi em Halifax, em 20 de novembro", disse Beta Lebeis, assistente de Axl e futura empresária pessoal. "Merck foi dispensado antes do dia de ação de graças."



Em 15 de dezembro de 2006, Axl postou uma carta aberta no website oficial do Guns n' Roses, falando mal de seu ex-empresário e afirmando que "um senso geral de falta de respeito do empresariado para com a banda e a equipe de apoio e para a experiência de cada um... Resultou, infelizmente, no final do envolvimento empresarial de Merck Mercuriadis comigo e com o Guns n' Roses."



"Leva aproximadamente oito semanas para que um álbum esteja nas lojas, a partir do momento em que ele é entregue à gravadora. Por sabe-se lá qual razão, parece que foi equivocadamente divulgado pelo empresariado que esse período de tempo poderia ser condensado para três semanas. Nós gostaríamos de anunciar como data provisória de lançamento o dia 6 de março."



Sebastian Bach mais tarde afirmou que Axl insistiu para que ele gravasse vocais para "Sorry" e que ele os gravaria no primeiro dia de 2007.

E os rumores e notícias continuavam a aparecer. Rolling Stone: "(Sebastian Bach) informou que ouviu músicas prontas do Guns n' Roses que dariam pra preencher pelo menos uns quatro álbuns, ao se lembrar uma noite, em janeiro de 2007, em que Rose tocou músicas novas da meia-noite até as seis da manhã no estúdio Electric Lady, em Nova York".

Bach: "uma das minhas músicas favoritas é uma chamada 'The General', que é tão... É de longe a música mais pesada que eu já ouvi Axl cantar, eu acho, um riff lento, triturante, e uns vocais muito altos, gritados. (Axl) me disse: 'bem, essa música vai sair no terceiro disco'".




Bach alegou que a música seria 'uma sequência de 'Estranged' (música de 'Use Your Illusion II') e ligada à parábola que Del James escreveu da trilogia'.







Em maio de 2007, quatro faixas vazaram para a internet e se espalharam pelo mundo como fogo em um rastilho de pólvora: a faixa título, "The Blues", "I.R.S." e "There Was A Time". A fonte, um lutador chamado Mister Saint Laurent, se gabou online de ter conseguido enganar uns 'colecionadores' em Portugal para conseguir as músicas.



Com versões de "Catcher In The Rye", "Madagascar" e "Better" já vazadas, de repente já dava pra ter uma idéia de como "Chinese Democracy" soaria. E estava parecendo - e, mais importante, soando - bem: melhor do que qualquer outra coisa rolando por aí, de fato. No final do ano, para dar uma leve cutucada e para demonstrar sua disponibilidade (sendo essa a primeira vez que um álbum "perdido" havia se tornado disponível) - e também porque o disco deixou a todos na revista de quatro - a revista Classic Rock indicou "Chinese Democracy" como o álbum do ano de 2007.



Em meio a negociações para uma matéria (no número 116 da revista Classic Rock, sobre as experiências de Tom Zutaut em 2001), Beta Lebeis - agora a empresária pessoal de Axl - disse que eles estavam felizes de terem recebido o título de álbum do ano. Ela ainda disse: "o álbum foi finalizado antes do Natal, mas isso todo mundo sabe. Agora nós estamos negociando com a gravadora". O projeto já havia sobrevivido a duas gravadoras.

Os rumores e as notícias continuavam a surgir, e vazamentos do álbum continuaram. Em 18 de junho, um website chamado Antiquiet postou um artigo com o título "Nós temos o 'Chinese Democracy' e valeu a espera". O site ofereceu nove faixas do álbum de forma ilegal. O homem por trás do vazamento, Kevin "Skwerl" Cogill, acabou sendo preso. Dentre as faixas constavam três músicas que ainda não tinham sido ouvidas: "If The World", "Rhiad N' The Bedouins" e uma faixa conhecida apenas como "Song #2" (que mais tarde descobriu-se ser a última faixa do álbum, "Prostitute"). "If The World" era a maior surpresa, uma música de R'n'B com um ritmo funk acentuado, guitarras de flamenco, arranjos de cordas e uma fanfarronice em cima de um tema de James Bond.

Enquanto isso, o novo empresário de Axl - o peso-pesado Irving Azoff (que também empresaria os Eagles e o Velvet Revolver) - parecia ter sucesso onde outros falharam. Os boatos de um acordo de exclusividade com a rede Best Buy nos Estados Unidos eram numerosos - e se revelaram verdadeiros. Finalmente o álbum havia sido lançado. Um álbum de 14 faixas que levou 14 anos para ser feito.




Em Londres, para o Classic Rock Roll of Honour (evento no qual ele entregou a Ozzy Osbourne o 'Living Legend Award' e recebeu o prêmio 'Marshall 11' por serviços prestados à arte de se tocar guitarra), Slash estava relutante em dizer o que sentia ao ver o nome Guns n' Roses em inúmeras capas de revistas e ouvir a banda no rádio. "Está tudo bem", ele nos disse. "Não tenho nada a dizer sobre isso".



Poucos dias depois, contudo, falando de Los Angeles ao telefone, ele disse que ouviu as faixas que vazaram mas não o álbum completo: "uma coisa que vou dizer é que é um daqueles casos em que você ouve a voz dele - especialmente em uma gravação, após não ouví-la por um bom tempo - e constata que ele é um dos maiores vocalistas de rock de todos os tempos, eu tenho que dar esse crédito a ele. Eu torço para que o disco venda bem".

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